quarta-feira, 21 de maio de 2008

DESCRIÇÃO E REFLEXÃO DAS ACTIVIDADES REALIZADAS NO ÂMBITO DO ESTÁGIO

Relativamente às actividades realizadas e à reflexão sobre as mesmas, é importante referir que no decorrer do estágio, podem distinguir-se dois momentos importantes para a estagiária: um primeiro momento mais centrado nas questões de integração institucional, e um segundo mais voltado para o conhecimento da população utente do CLAII (população imigrante). Relativamente ao processo de integração da estagiária na instituição, este incluiu actividades tais como conhecimento dos procedimentos burocráticos, observação dos atendimentos e serviços, bem como a tomada de conhecimento acerca da organização e actualização das leis, mais concretamente, a Nova Lei da Nacionalidade. Esta fase de integração na instituição foi relativamente fácil para a estagiária. Tal facto deveu-se não só ao seu carácter extrovertido mas também ao facto das relações entre os técnicos do CLAII terem um carácter informal. Este factor ajudou consideravelmente no processo de adaptação.

No respeitante ao segundo momento (conhecimento da população utente do CLAII), este iniciou-se com a participação da estagiária num Encontro intitulado “Art. 13.º sobre a Imigração”, o qual se realizou em Moscavide nos dias 15 e 16 de Novembro de 2006 (primeiros dias do Estágio). O Encontro foi promovido dentro do contexto das comemorações do Dia Internacional da Tolerância. Os temas abordados foram: a diversidade religiosa, educação em contextos multiculturais e o papel da habitação nos processos de integração social. Os participantes tiveram ainda oportunidade de integrar workshops dedicados aos temas “Mitos e Factos”, “Lei da Nacionalidade” e “Educação Intercultural”. No discurso de abertura deste Encontro, o Presidente da Câmara Municipal de Loures sublinhou “a necessidade de encarar as diferenças culturais como um enriquecimento da nossa própria cultura e um incentivo à tolerância”.

Neste mesmo evento esteve presente o Alto-Comissário para a Imigração e Diálogo Intercultural, Dr. Rui Marques, o qual referiu ser fundamental investir na promoção da “igualdade de dignidade, direitos, deveres e oportunidades entre cidadãos nacionais e estrangeiros, sendo que as alterações recentemente efectuadas à lei de acesso à nacionalidade portuguesa constitui um importante passo nesse sentido”. Mediante a participação nesta conferência e a observação do trabalho desenvolvido por cada conferencista, a estagiária pôde perceber como os intervenientes no Encontro desenvolviam as suas intervenções de acordou com os parâmetros das respectivas áreas multidisciplinares a que pertenciam.


Além da participação neste Encontro, a estagiária usou ainda outras estratégias para tomar conhecimento da população utente do CLAII (população imigrante). Algumas destas estratégias incluíram: a consulta de processos, a pesquisa bibliográfica sobre a temática dos imigrantes, bem como a pesquisa sobre o enquadramento legal que rege o funcionamento do CLAII. Através destas estratégias, a estagiárias conseguiu adquirir um conhecimento mais amplo da vida dos imigrantes no país de acolhimento, das suas dificuldades e dos seus problemas quotidianos.

Para construir o diagnóstico, a estagiária conduziu entrevistas informais com os utentes, os técnicos do CLAII, o administrativo e o orientador do estágio, como também procedeu à análise do diário de campo. Para que a intervenção pudesse chegar ao contacto directo com a população-alvo foi necessário desenvolver um conjunto de etapas e ultrapassar algumas dificuldades tanto institucionais como pessoais, as quais reduziram o tempo de intervenção directa com os utentes do CLAII.

Inicialmente ficou definido no pedido da instituição que a estagiária, embora desenvolvesse o seu projecto no CLAII, estivesse também ligada ao projecto RIAS, especialmente à vertente individual deste projecto. Neste sentido, a estagiária acompanhou várias vezes a Assistente Social responsável pelo projecto RIAS em visitas domiciliárias e analisou algumas fichas de atendimento desta técnica. A estagiária considerou estas actividades bastante enriquecedoras, especialmente no que diz respeito às visitas domiciliárias.

Por outro lado, a estagiária enfrentou algumas dificuldades, concretamente, em relação a visitas ao Bairro da Quinto do Mocho. Após ter explicado e discutido esta situação com a supervisora da Faculdade, ambas (a estagiária e a supervisora) decidiram que o estágio fosse desenvolvido no CLAII, não havendo necessidade de ir ao RIAS, visto que o local de estágio era o CLAII. A partir desse momento, a estagiária comprometeu-se a estar mais presente e a acompanhar o maior número de atendimentos possível, tanto os que foram realizados pelo orientador do estágio como pelo outro técnico do CLAII. Desta forma, a estagiária pôde reunir um conhecimento mais alargado das problemáticas encontradas pelos utentes de diferentes países de origem.

Tendo adoptado uma postura mais participativa a estagiária decidiu aplicar as estratégias aprendidas durante a observação dos atendimentos, às suas visitas às instituições e às conversas informais que estabeleceu com a população-alvo do projecto. O estabelecimento de uma relação com os utentes aconteceu através de contactos em contextos informais, bem como da participação nos atendimentos. Através da participação nos atendimentos, a estagiária ouviu histórias de vida, preocupações, medos e angústias quanto ao passado e quanto ao futuro, procurando transmitir sempre uma perspectiva positiva e de empatia com as pessoas, obtendo assim mais informações. Durante os atendimentos observados a estratégia procurou, aos poucos, ir ganhando algum grau de autonomia.

No que respeita a outras actividades realizadas, a estagiária participou em várias formações promovidas pelos técnicos do CLAII, sobretudo dedicadas ao tema da Nova Lei da Nacionalidade. Através da participação nestas formações, a estagiária teve a oportunidade de adquirir um maior conhecimento da Nova Lei da Nacionalidade. A primeira destas formações aconteceu no dia 30 de Novembro de 2006, na Casa da Cultura da Quinta Terraços da Ponte. Para dar esta formação vieram duas técnicas do ACIME. Estas explicaram a Nova Lei da Nacionalidade e as possibilidades que a Lei iria trazer para a vida dos imigrantes no país de acolhimento. Nesta acção de formação participaram funcionários dos vários serviços dos CLAII’s do Concelho de Loures e também alguns funcionários de casa Cultura de Sacavém.

No dia 18 de Janeiro, a estagiária participou numa segunda acção de formação organizada pelos técnicos do CLAII, incluindo o orientador do estágio. Este evento realizou-se no Centro Comercial Carrefour e foi organizado tendo em conta todos os funcionários imigrantes que trabalhavam nesta área comercial. No encontro estavam presentes 12 participantes de 7 nacionalidades. A pergunta de fundo destes imigrantes era: “será que a Nova Lei da Nacionalidade vai facilitar a vida dos imigrantes?” A estagiária considerou esta pergunta como um desafio para os técnicos que trabalham directamente com os imigrantes e para si mesma, como futura profissional. Ficava o questionamento: será que o País esta bem preparado para aplicar a Nova Lei da Nacionalidade?

No dia 17 de Maio de 2007, a estagiária participou noutro encontro de formação organizado pelos técnicos do CLAII, desta vez, no Centro Comercial Loures Shopping. Neste encontro participaram 16 imigrantes de 9 nacionalidade. Havia 3 participantes que estavam ilegais no país. Para estes, a pergunta era: “será que com a Nova Lei da Nacionalidade podemos legalizar-nos em Portugal?”

Relativamente a esta e outras perguntas dos participantes, os técnicos explicaram que para os utentes que estão ilegais no País seria melhor regressarem ao seu país de origem e tratar lá os documentos. Explicaram, ainda, que estando ilegalmente no país, eles correm o risco de ser expulsos e proibidos de voltar a entrar durante vários anos. Os técnicos referiram ainda que a nova Lei da Nacionalidade apresenta soluções para muitos problemas que afligem os estrangeiros em Portugal, por exemplo, esta Lei facilita a aquisição da nacionalidade portuguesa.

Além da participação nas acções de formação organizadas pelo CLAII, a estagiária participou ainda numa acção de formação organizada para mediadores do CLAII e subordinada às temáticas do Acolhimento, Atendimento, Lei da Imigração, Lei da Nacionalidade, Reagrupamento Familiar, Educação, Saúde e Ferramentas Informáticas da Comunidade CLAII. Este evento foi organizado pelo ACIDI e decorreu nos dias 21 a 25 de Maio de 2007 (ver anexo nº.14).

No decorrer do percurso da intervenção, ao verificar como funcionava o CLAII, segundo os seus objectivos iniciais, a estagiária percebeu que nem sempre foi fácil contribuir para a integração dos imigrantes na sociedade de acolhimento devido a burocracias e cumplicidades existente nas instituições. Apesar de ter recebido todo o apoio necessário do orientador de estágio e da equipa técnica para a compreensão da problemática da imigração, a estagiária encontrou algumas dificuldades em perceber na sua totalidade o funcionamento do CLAII e as leis da imigração existentes no país.

Neste sentido, a estagiária sentiu alguma confusão aquando das alterações das Leis, bem como, tendo em conta a quantidade de informações que necessitava absorver. Isto fez com que a identificação do seu objecto de intervenção fosse um processo difícil. Embora com algumas dificuldades na definição do seu objecto de intervenção, a estagiária aprofundou a problemática com base em estudos sobre a imigração em geral, atendendo à escassez ou inexistência de estudos focados directamente nos imigrantes que se dirigiram ao CLAII para pedir informações.

Estando consciente desse constrangimento, foi mais fácil para a estagiária ultrapassar essa etapa (definição do objecto de intervenção), apesar das actualizações regulares que o projecto foi sofrendo ao longo do estágio. O aprofundamento da problemática foi uma mais-valia para a estagiária, visto a mesma ter tido oportunidade de tomar contacto com uma realidade nova: a realidade vivida pelos imigrantes em geral. Esta mais-valia proporcionou, ainda, à estagiária uma dupla visão de uma mesma realidade: por um lado, a visão que a estagiária tinha sobre a integração social vivida pela própria; por outro, a visão que os manuais e os autores tinham sobre o assunto. O resultado permitiu que à estagiária concluir que a participação activa dos agentes inerentes ao sistema de acção dos imigrantes era de extrema importância.

Na fase da execução do projecto, a estagiária sentiu-se mais confiante e pôde realizar um trabalho mais autónomo em relação ao orientador. Nesta fase a estagiária teve oportunidade de visitar e contactar com várias associações de imigrantes sobretudo na área metropolitana de Lisboa, bem como implementar acções e actividade incluídas no seu próprio projecto. Esta fase permitiu também à estagiária um primeiro contacto com o mundo profissional na área de imigração. Finalmente, esta etapa contribuiu para que a estagiária reflectisse acerca das políticas de integração em Portugal, chegando à conclusão de que grande parte dessas políticas não se aplica na prática.

A quarta e última etapa do percurso do estágio, na qual foram analisados os resultados obtidos pelo projecto trouxe novos saberes à estagiária e uma maior capacidade de lidar com o imprevisto, apesar das dificuldades sentidas na sua concretização. Esta fase levou a estagiária a uma maior e melhor integração na instituição e ao crescimento na autoconfiança, visto a estagiária ter procurado desenvolver a sua intervenção de um modo mais directo com os utentes e com a instituição. Nesta fase a população-alvo da intervenção passou a ser, preferencialmente, os oito utentes do CLAII incluídos no projecto, tendo em conta as prioridades de intervenção apontadas pelo diagnóstico.

Finalmente, reflectindo sobre as actividades realizadas e sobre o estágio em geral, pode-se dizer que este foi enriquecedor, visto ter levado a uma maior compreensão das inúmeras situações sociais ligadas à imigração, ao conhecimento das leis da imigração em Portugal, ao acompanhamento dos utentes incluídos no projecto de intervenção, ao conhecimento da dinâmica de funcionamento da instituição onde foi conduzido e, finalmente, ao crescimento pessoal da própria estagiária no sentido de que muitos “preconceitos” se foram desfazendo através da compreensão gradual da realidade vivida pelos imigrantes.

O estágio seguiu a metodologia de Investigação-Acção e foi composto de quatro fases, a saber: integração, planeamento do projecto de estágio, execução do projecto e avaliação do mesmo. Este percurso trouxe à estagiária novos conhecimentos e experiências, de modo que a mesma reconheceu que o processo contribuiu para uma aprendizagem mais ampla, embora tenha despertado também interrogações acerca desta problemática da imigração. Esta foi uma experiência gratificante quer para a estagiária quer para a instituição que a acolheu; uma experiência que ajudou a estagiária a estar melhor preparada para dar inicia a uma nova caminhada a como profissional.

Para concluir esta reflexão é importante realçar que ao longo do período de realização das actividades a estagiária foi adquirindo novas competências. Feito este percurso, a estagiário considera ter obtido resultados positivos a diferentes níveis: pessoal, institucional, académico e profissional. Neste sentido, pode-se concluir que os objectivos de estágio propostos, apesar de não terem sido alcançados na sua totalidade, foram bastante positivos.

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